Desnuda
Toda mulher tem um corpo belo. Brilhante fruto de milhões de anos de evolução, de surpreendentes ajustes e refinamentos sutis, ele é o organismo mais extraordinário existente sobre o planeta. Desmond Morris – A Mulher Nua – um estudo do corpo feminino. São Paulo, Globo 2005. |
Parido de uma força maior, de um desejo antigo, Compondo a Epiderme, trás para DESNUDA uma contribuição singela e ainda esboçada de uma dança sensual sob uma ótica sutil voltada para duas partes do corpo feminino não tão valorizadas e pouco observadas no ocidente: COSTAS E PESCOÇO.
No Ocidente, os homens costumam olhar o pescoço da mulher simplesmente como algo que segura à cabeça. Eles sabem que a pele do pescoço é sensível a carícias e que beijá-lo suavemente pode excitar a parceira durante os preliminares do sexo, mas, além disso, quase não lhe dão atenção. (...) (Desmond Morris- p.: 104 2005).
Logo no começo da pesquisa, da busca de uma dança sensual onde pudesse através dessas duas partes do corpo feminino costas e pescoço a mesma me remeteu a imagem da serpente como suporte inicial do trabalho. A partir de então, fui à busca desses movimentos que explorassem ainda mais as costas e conseqüentemente o pescoço. Grande era minha preocupação, por se tratar de um corpo pela sociedade datada de gordo. Largada essa preocupação, caiu em si o desvencilhamento desse preconceito e que seria exatamente esse mote que levaria a dança surgir e ser derrepente interessante por este fim. Ao passo que encontrava com a idéia da contorção/serpente as imagens foram aparecendo naturalmente e incorporando todas as idéias iniciais do solo: colares, muitos colares, costas nuas e pescoço livre de qualquer informação.
Em círculos ocultistas, o pescoço sempre foi uma parte do corpo de grande importância. Não é por acaso que, na mitologia vampiresca, a mordida se dá sempre pela lateral do pescoço. Em alguns cultos, como o dos vodus do Haiti, acreditava-se que a alma humana reside na nuca, e foi o significado místico do pescoço que gerou o uso de colares nos primeiros tempos. (...) exemplos mostram claramente que usar um colar não era um traço cultural isolado, mas um costume que já estava bem disseminado há trinta milênios. (idem – 107, 2005).
Visto que desde os primeiros encontros de DESNUDA cada uma das intérpretes buscaram desenvolver um tipo de corpo feminino para uma possível dança. A sensualidade me chegava com forte desejo de se debruçar sobre uma questão do “corpo gordo”. Não sobre a ótica da própria imagem, ou talvez questionar esse aspecto mostrando o “gordo”, mas sim, mostrar outro viés que se tratava da sensualidade acima de uma imagem tida pela maioria da sociedade como “isso não serve para”. Desnudar esse corpo seria a primeira ação de compondo a epiderme unindo os colares a uma relação com esse corpo, com as costas e pescoço.
Foto: Renata Marques
A partir de um jogo com os colares, Compondo a Epiderme, tornou-se possível. Visto que seria através destes, o envolvimento com o público quando o mesmo seria levado a me perceber, mas próxima. A ação é simples. Entro em ação com meu braço direito coberto de colares e trazendo consigo movimentos que lembram os de uma serpente. Ao passo que vou transitando pelo público vou deixando-os jogados pelo chão bem próximo as pessoas. Num ato de insinuação e sensualidade sutil com movimentos leves apenas com o braço. Nessa transição, acabo por deixar todos os colares que em meu braço se encontrava e me enraízo no espaço deixando esse mesmo braço/serpente circular por meu pescoço e lateral das costas. A ponto de expandir os movimentos de “torção” para uma dança toda centrada nas costas. E aos poucos evoluo essa dança prendendo os braços no corpo e deixando que se movimentem apenas costas e pescoço. Consecutivamente, volto apanhando os colares com a boca e com os pés. Aproveitando assim, outras formas de usar esses colares senão pescoço. O jogo se dar de tal forma, que voltando para apanhar esses colares acabo trazendo a sensualidade para uma idéia de sugestão ao toque. Fico sujeita ao toque das pessoas/público e correndo o risco de que esse pegue algum colar e que tenha o prazer de pegar algum dos colares com tal pessoa. Ainda, tornando possível um olhar mais próximo a duas partes evocadas por minha dança: pescoço e costas.
As costas femininas têm sido ignoradas tanto pela própria mulher quanto pelos observadores. (...) Entretanto, as costas femininas têm uma beleza inegável. Mesmo sem repouso, elas são naturalmente mais arqueadas que as costas do homem, e se a curva da coluna é deliberadamente acentuada com a projeção do quadril para trás, a linha das costas torna-se mais sensual. (Desmond Morris, 174, 2005).
Foto: Renata Marques
Ressaltando ainda, Compondo a Epiderme, foi pensada a partir da possibilidade de uma complementação desse tecido primário que nos compõe a pele. E desde então fui à busca de uma base teórica que pudesse ostentar essa idéia. E nessa intenção, me foi apresentado o escritor e zoólogo inglês Desmond Morris que reuni muitos estudos e escritos sobre o corpo feminino na obra A Mulher Nua, a qual alimentou este solo de embasamento teórico.
Essa imagem do sensual procura-se compor uma epiderme sensível, investigando outras partes do corpo que são culturalmente por nós brasileiros (em específicos alagoanos) esquecidos. A pesquisa visa estabelecer artisticamente através da dança uma conexão das partes do corpo tais como: pescoço e costas, passando por um contato de pele-cheiro-sedução. Ainda compondo este solo, disponho em seu arcevo apreciativo um suporte cênico que foi a elaboração de fotografias de pescoços com os colares que são usados na ação. Compondo assim, a passagem do solo na cena. Penso que Compondo a Epiderme, tende a ser um trabalho para frutificar por muito tempo. A intenção é mantê-lo em cena e aderir outras perspectiva e inovações. As descobertas, idéias, ainda não foram todas exploradas dentro desse solo que penso ser um trabalho para ser levado a diante.
Relatório do Solo - Compondo a Epiderme - DESNUDA.
Mudou o nome foi?
ResponderExcluirPensei que era sensual, o nome do solo...
o.O
bjO
NÃO AMORE...SEMPRE FOI ESSE O NOME...SENSUAL É A TEMÁTICA O QUE TRABALHO NELE....RSRSRS BJO
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