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sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Projeto Anticorpo "5198" - Carol Lucena - Obra: Mary Vaz


PROJETO ANTICORPO 01

“5198”

Coordenação: Carol Lucena







Meus afetos aos nossos “eus”



Nenhuma ciência objetiva, nenhuma psicologia, nenhuma filosofia tampouco, jamais abordou o reino do subjetivo e, por isso, não o descobriu realmente.

HUSSERL

Um brinde aos nossos afetos!

É assim que transbordo minhas palavras a esse projeto. Com tamanho apego a esses “afetos” é que pretendo iniciar o cair das minhas ações dirigidas as profissionais do sexo, na ideia de fazer desse apego um subjetivo, e também sugestivo, pré-retrato.

Penso que tal retrato se configura da forma que interpreto o descobrir dos fatos/tema. Propondo uma autonomia de um trabalho intimamente e inseparavelmente ligado a uma questão de vida. Entendendo assim, que o mesmo se tratava ou de “uma pintura, ou colagem, ou uma escultura, ou um desenho a partir de uma peça de roupa íntima feminina recebida pelo correio”. Porém, não me contive em deter-me nesses planos, buscando uma saudável desobediência.

A partir de inúmeras inquietações com o conteúdo envolvendo o projeto me submeti a experiências das quais me sinto ligada mais afetivamente: a performance/vídeo performance. E, vendo por essa ótica da lógica lancei a proposta para um caminho da subjetividade ultrarrealista, na intenção de que possamos observar a questão do projeto anticorpo “5198” em sua amplitude merecedora. Observando, entretanto a preocupação implícita nesse trabalho com o meio social, onde esse fator mais que real aos nossos cotidianos se configura cada vez mais com uma potência silenciosa, desprotegida e tratada com uma violência que me aparece incubada, surreal, parecendo não existir e abandonada a uma causa qualquer. Como se esse assunto fosse algo sempre para o “outro” e não para “nós”.

Estabelecendo uma relação entre “eu” e os “eus” que posso enxergar em cada profissional do sexo. Tentando compreender o que acontece nesses que chamo de “eus” (prostitutas) quando as mesmas decidem traçar esse caminho em suas vidas. Sei que essa compreensão é rasa e ao mesmo tempo profunda para alguém que nunca traçou esse caminho, no caso “eu”. Mas, entendo que para chegar até uma compreensão, mesmo que rasa, dessas profissionais devo me observar profundamente e me afetar com

tanta intensidade para chegar a sentir o que cada uma sentiria em seu intimo. Suposição. Jamais entenderia merecidamente e realmente o que sugeri nesse “eu” que proponho.



Nenhum outro indivíduo pode dizer Eu em meu lugar, mas todos podem dizer Eu individualmente. Como cada indivíduo vive e experimenta-se como sujeito, essa unidade singular é a coisa humana mais universalmente partilhada. (...) (Edgar Morin – método 5- A humanidade da humanidade. P.:75).



A ideia da aproximação, ou melhor, desse pré-retrato que me aconteceu é algo que chega e deita em meu colo buscando uma conversa, um carinho e uma proteção. Assim, me chega também à ideia dessa profissional ter tido uma infância perdida por questões encobertas, subjetivas e implícitas que não há de vir publicamente e nem ao menos aos olhos do cotidiano preconceituoso que as envolve.

Vejo essa profissional com características físicas, morena, magra, olhos castanhos claros, cabelo descuidado e com um corpo ainda com traços de uma adolescente. Com personalidade firmada fortemente numa crença de sobrevivência e para isso tenha que fazer o que for preciso para se manter viva. Porém, com uma carga de inocência e ingenuidade que se transfigura no âmago do seu leito. A boneca, a sutileza, a timidez e entre outros símbolos expostos no vídeo performance são características do meu imagético. A faca em si coloca-se como sendo um ponto chave para intervir na minha ideia central do estereótipo dessa profissional do sexo, a violência externa sofrida por ela e ao mesmo tempo, ainda em processo de descoberta, uma inocência e inconsciência dessa violência consigo mesma. A faca é um símbolo chave dentro desse processo, podendo ser contínuo e uma forma de descoberta de outras ações que por ventura possa vir acontecer.

É a qualidade do sujeito que torna cada gênero único, não as suas características particulares. Assim, a diferenciação decisiva, em relação a outro, não está, antes de tudo, na singularidade genética, anatômica, psicológica, afetiva, mas na ocupação do espaço egocêntrico por um Eu que unifica, integra, absorve e centraliza cerebral e afetivamente as experiências de uma vida. (Edgar Morrin – método 5- A humanidade da humanidade. P.:75).








Firmando assim, uma relação ambivalente, diante de uma vida desconhecida, transitando entre a simpatia e o medo.




Mary Vaz ------------------------ 13/09/2011