ANÔNIMO (A)
Performer: Mary Vaz
Tal performance se desdobra no intuito de promover instigações sobre um corpo impregnado de suas raízes enquanto origem e formação de identidade. Elementos, imagens e sonoridades se unem para estabelecer um encontro poético dessa “anônima” com o público e ao mesmo tempo um reencontro com seu ambiente de origem.
A identidade pessoal define-se, antes de tudo, em referência aos ancestrais e aos pais; o indivíduo de uma tribo designa-se primeiro como “filho de” e depois por um nome que pode ser de um parente, de um patriarca, de um profeta, de um santo, do qual não somos o único titular. Mas amplamente, definimo-nos em referência à nossa cidade, nosso estado, nossa nação, nossa religião. Nossa identidade não se fixa afastando-se, mas, ao contrário, incluindo os seus ascendentes e as suas filiações. (Edgar Morin – A humanidade da humanidade- pág.: 86, 87. )
Lançando-se numa busca de um corpo ascendente e ancestral no sentido de voltar ao campo, ao mato, as folhas, aos bois, aos animais, ao “feto”, a obra investiga a aceitação da própria imagem e semelhança. Exigindo desse corpo uma intimidade direta com a terra, com os animais. Retrocedendo o mesmo a vivências impressas ao longo do tempo. E ao mesmo tempo se interrogando quanto a uma imagem, a um estilo de vida imposto pela cidade grande.
Segundo Edgar Morrin,
Cabe decompor a concepção monista, plena, substancial do sujeito individual e recompô-la na complexidade da sua unidade. O Eu une a heterogeneidade dos Egos.
No fervilhar, no múltiplo, no diverso, no anônimo, o Eu emerge sem parar. Unificador de uma multiplicidade formidável e de uma totalidade multidimensional. (pág.94)
Com isso a consciência de si próprio está intrinsecamente dependente do elemento da memória. Acreditando assim que a memória destaca-se porque só ela pode permitir o reconhecimento contínuo de uma pessoa que se identifica com ações passadas e que pode ser considerada responsável pelas ações que praticou. Esta dependência da consciência em relação à memória levanta-se inúmeras dificuldades porque não temos uma recordação total, absoluta de todas as nossas experiências vividas. Aliás, muitas destas experiências nem sequer nos lembramos, ou simplesmente esquecemo-las.
O desejo de acionar as lembranças que constitui minha identidade toma-me a alma. Fazendo-me compreender o processo criativo performático Anônimo (A) como uma forma intrínseca de vivenciar e agradecer ao lugar de onde vim.
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