É simplesmente parar
para ver, na espontaneidade humana, os gestos naturais de desprendimento; para beirar o rio e sentir o vento frio na fronte a soprar; sentar na ribanceira para descansar, cortar a paia na folha seca e pitar, ouvindo ao longe, no silêncio por entre as folhas, o canto do sabiá.
Ter fé implica em mandar flores, não somente para agradar, mas para fazer aflorar a sensibilidade de quem recebe, e deleitar-se com um simples gesto de carinho.
Ter fé implica no despertar antes de o dia chegar, anteceder aos raios do sol e contemplar o rastro da noite desaparecer no horizonte; andar a pé pelo caminho de leito estreito e ornamentado pelo capim ainda encharcado de orvalho.
É ver a beleza de uma formiga carregando seus grãos de alimento.
É ser preenchido pelo cheiro que a folha do mato proporciona.
É sentir a falta do interior. É sentir a falta que a terra faz para os meus pés desalinhados pelo asfalto da cidade.
Ter fé implica na razão de ser e não do querer ser.
Anonimamente, ser caçado por minhas razões óbvias.´
É procurar dentro de si uma razão maior senão a própria história de vida para ser alimentada pela a arte.
Nos dias que me cabem a pensar sobre ela.
Nos dias que bate uma saudade da própria alma, do próprio espírito.
Do cheiro de terra molhada.
Do pai. Da mãe pedindo para não sair de casa.
Ter fé implica num bocado de "boubagem" que saem de um ser com inúmeras razões de ser quem é e de não ser.
Porque ser o quem somos é complexo!
É pensar no meu cordão umbilical que foi enterrado no morão do curral de bois do meu pai.
É repensar no meu nascimento e fazer desse ato uma febre que me toma.
É TER MEDO!
FOTOS: Priscila Cordeiro
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